quinta-feira, 14 de março de 2013

Um alguém apaixonado (Like Someone in Love), Abbas Kiarostami (2012)




Quem é Abbas Kiarostami?
 Diretor iraniano cujos filmes brincam com a percepção do público.
 Ronald Bergan 2006.

Com esta definição podemos nos preparar para o novo filme de Abbas Kiarostami.
Já em seus primeiros minutos há uma cena com um diálogo fora de plano que indica como a narrativa vai se desenrolar no decorrer do filme.
Existe uma forte tensão que o extracampo exerce no plano.
Esta cena deslocada indica que o filme todo pode estar deslocado até chegar no "não final".
O filme é visualmente muito bem concebido pelo diretor de fotografia Katsumi Yanagijima principalmente nas cenas de espelhos e as filmadas através dos vidros.
Podemos interpretar este novo trabalho global e multilingue de Kiarostami e pensar que o filme está fora das janelas.
Repare como Akiko (Rin Takanashi) está sempre sozinha no quadro olhando por um vidro onde vê o mundo exterior.
O professor Takashi(Tadashi Okuno) e sua vizinha olham para o mundo pela janela de seus apartamentos.
Quando esta relação de separação com o mundo exterior se rompe acontece também o abrupto final do filme.
Desde "Gosto de Cereja" (1997) e "Dez" (2002) Kiarostami usa cenas de carro.
Aqui boa parte do filme se passa no interior do carro de Takashi.
O filme reflete o clima da pacata vida e velhice do professor que pode acabar a qualquer momento, principalmente quando ela começa a ficar animada.
É como o final do filme que para platéias domesticadas jamais poderia acabar naquele instante.
O filme é recheado com várias personificações: Takashi que se diz avô da estudante, que não revela sua faceta de prostituta para o namorado, que por outro lado quer mostrar seu lado de homem educado quando na verdade é violento.
Há uma clara homenagem à Yasogirô Ozu na temática do contraste de gerações.
Seria muito pensar que Kiarostami quisesse mostrar a "coesão social" de Emile Durkheim no pequeno microcosmo do filme mas a linguagem cinematográfica usada neste filme mostra o amadurecimento do diretor iraniano.
O belo pôster e a bela canção (título do filme) de Ella Fitzgerald pontuam este filme que é uma das melhores surpresas do ano.


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