domingo, 8 de abril de 2012

Shame - Steve Mcqueen 2011















A maioria dos comentários sobre o filme falam sobre um viciado em sexo andando em Nova York. Acontece que o filme é muito mais que isso. Steve Mcqueen consegue neste seu segundo filme uma espécie de continuação do seu anterior "Hunger" (2008). Só que em Hunger, seu ator predileto Michael Fassbender vive um preso político em greve de fome que não consegue sua liberdade. Shame mostra o personagem Brandon com todas as liberdades e consumo desregrado mas preso em seu vazio interior. Mcqueen consegue rechear seu filme com contrastes e linguagem simbólica. A desorientação do indivíduo e o vazio que se instalou na moderna sociedade de consumo de massas vai sendo filmado numa Nova York gélida e sem profundidade. Só conseguimos ver paredes e na única cena onde temos uma visão mais ampla e panorâmica da cidade podemos ver um apartamento com gigantes vidros onde Brandon tenta sair de seu mundo e entrar numa espécie de relacionamento sério com uma colega de trabalho. Mas Brandon continua usando o sexo para fugir de si mesmo e a cena do restaurante mostra a total ausência de prazeres quando pouco importa o vinho e o prato a ser pedido. Brandon faz um personagem niilista ao estilo Albert Camus, um L'étranger pós-moderno. Carey Mulligan está ótima no papel da irmã principalmente na cena do sofá onde o fundo de um desenho animado sem contraste remete a traumas subliminares de uma infância conturbada. A sexualidade anônima, o prazer submisso e o masoquismo fazem com que Brandon provoque uma briga de bar na qual ele apanha numa espécie de autoflagelo e autopunição.



Englishman in New York




É preciso muita responsabilidade para filmar em New York principalmente num filme com muitas cenas de rua e imagens da cidade. Mcqueen se mostra à altura dos belos filmes filmados em NY. Na ótima cena onde Carey Mulligan canta "New York New York" em tempo real todos os elementos da tradição se fundem. Aliás Mcqueen adora planos longos e no seu filme anterior "Hunger" há uma cena arrasadora de uma conversa dentro da lanchonete da prisão. Não menos impressionante é a cena do jogging onde num plano só temos a idéia de impasse e indecisão. A produção é britânica e o filme já venceu o Fipresci Prize do Festival de Veneza.